Cartilha que orienta adolescentes sobre gravidez precoce é apresentada na Undime-SP

Capa de “O Diário de Uma Menina Adolescente e Grávida”

O diretor da Educapress Raul Christiano, apresentou nesta quinta-feira 17/01, aos dirigentes municipais de educação integrantes da Undime-SP, a cartilha “Diário de Uma Menina Adolescente e Grávida”, indicada para distribuição na rede pública e privada de ensino fundamental.

A apresentação e explicação sobre a cartilha de apoio didático acontece poucos dias depois de o presidente da República Jair Bolsonaro, sancionar a Lei nº 13.978, que acrescenta ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990) artigo instituindo a data de 1.º de fevereiro para início da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência.

Com isso, nesse período, atividades de cunho preventivo e educativo deverão ser desenvolvidas conjuntamente pelo poder público e por organizações da sociedade civil. A oficialização da data, que será celebrada anualmente, foi proposta em 2010 pela então senadora Marisa Serrano (PSDB-MS).

Para Raul Christiano, esta cartilha, editada pela consultoria Educapress em parceria com a Ativa Online, vai auxiliar no trabalho de prevenção à gravidez na adolescência.

Ele explicou que a publicação é um primeiro passo para a definição, pelas escolas municipais e estaduais, públicas ou privadas, de políticas públicas que gerem uma sensação de segurança para que os adolescentes mudem suas atitudes em relação à prevenção. Seu conteúdo foi apresentado nesta quinta-feira (17), para educadores representantes de 45 secretarias municipais de Educação, durante encontro realizado pela Undime-SP (União dos Dirigentes Municipais de Educação), na Capital, tendo sido muito elogiado.

Página interna de “O Diário de Uma Menina Adolescente e Grávida”

O Diário de Uma Menina Adolescente e Grávida”, escrito pela professora e arquiteta Telma Valença Sant’Anna e ilustrado por Mariana Antonucci, reproduz cenas cotidianas com linguagem acessível e ilustrações associadas ao universo do público-alvo, em sintonia não só com a realidade individual das alunas, como também com a realidade das comunidades nas quais estão inseridas.

O texto e as ilustrações da cartilha respeitam a realidade social, cultural e econômica dos jovens estudantes brasileiros em grupos de risco, também propiciando a participação e integração das famílias no processo sociopedagógico escolar.

“Nosso produto foi elaborado com base em hipertextos que provocam o interesse e a curiosidade sobre uma história real entre adolescentes em idade escolar, oferecendo um conjunto de situações e diálogos que podem ser discutidos e compartilhados entre os colegas de escola, amigos e também pela família. Para os professores, é um material de apoio às demais iniciativas, pois oferece um argumento para iniciar a abordagem do assunto com as adolescentes”, explica Raul Christiano, da Educapress,

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em fevereiro do ano passado revelam que, na América Latina e no Caribe, a taxa de gravidez entre adolescentes é a segunda mais alta do mundo, superada apenas pela média da África Subsaariana. Na América Latina e no Caribe, ocorrem anualmente, em média, 66,5 nascimentos para cada 1 mil meninas com idade entre 15 e 19 anos, enquanto o índice mundial é de 46 nascimentos entre cada 1 mil meninas.

Levantamento do Ministério da Saúde fechado em 2017 informa que, somente em 2015, foram 546.529 os nascidos vivos de mães com idade entre 10 e 19 anos. A taxa apresentou, em 11 anos, queda de 17% no Brasil, conforme a base do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), já que, em 2004, foram registrados 661.290 nascimentos.

Naquele ano, o número de crianças nascidas de mães adolescentes nessa faixa etária representou 18% dos 3 milhões de nascidos vivos no país. O balanço do ministério mostra que a região com maior prevalência de gravidez precoce, em 2015, foi o Nordeste (180.072 – 32%), seguida pelo Sudeste (179.213 – 32%).

A cartilha “Diário de Uma Menina Adolescente e Grávida” está sendo oferecida para todas as secretarias estaduais e municipais de educação, como ferramenta de apoio didático.

Educadores conhecem “Diário da Menina Adolescente e Grávida”, durante reunião da Undime-SP.

Informações e contato Educapress:

Tel: 13 3321 6996

E-mail: contato@educapress.com.br

 

A EDUCAPRESS é uma empresa de consultoria que atua desde 2007 nas áreas de educação, cultura e políticas públicas.

Que plano o governo tem para a educação?

Maria Alice Setubal

Maria Alice Setubal

O MEC não apresentou até agora medidas que induzam Estados e municípios a se comprometerem com o Plano Nacional de Educação

Não há o que comemorar após um ano de vigência do Plano Nacional de Educação (PNE). Imerso em um cenário de crise econômica e política, com graves impactos na educação, o Brasil cumpriu parcialmente o prazo para que municípios e Estados aprovassem seus planos de educação, que expirou em 24 de junho.

Apesar de ser uma das principais estratégias do Plano Nacional, cerca de 15% dos municípios ainda não têm seus planos municipais sancionados. Também não há sinais de que em 2016 o país consiga atingir outra das metas previstas no PNE, a da universalização da pré-escola para as crianças de quatro e cinco anos. Para isso, seria necessário em um ano inserir cerca de 700 mil crianças nessa etapa de ensino.

Apesar das declarações do ministro Renato Janine Ribeiro reforçando a importância do PNE, o Ministério da Educação não apresentou até agora um conjunto de medidas que induzam Estados e municípios a se comprometerem com as metas.

Ao contrário, assistimos surpresos à discussão de um plano desenvolvido pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, que não dialoga com o MEC nem com o Plano Nacional. A falta de esclarecimento gera confusão, enfraquece o ministério e, sobretudo, revela uma falta de sintonia no governo, que desperdiça esforços e recursos em um momento de cortes e de urgência na reversão do quadro educacional brasileiro.

Nossas desigualdades educacionais ainda são enormes, em especial quando comparamos os Estados das regiões Norte e Nordeste com o restante do país. O mesmo ocorre entre as zonas rurais e urbanas ou entre os centros e as periferias das grandes cidades.

Não se trata de um percentual residual, mas de algo que afeta cerca de 40% dos estudantes que frequentam a escola pública nessas regiões. Não vamos dar o salto de qualidade sem políticas claras e alinhadas que enfrentem essa situação.

A complexidade do contexto brasileiro se agrava quando consideramos que, ao mesmo tempo em que devemos buscar superar essa situação, a educação deve responder aos desafios do século 21 expressos na necessidade de uma escola mais aberta à comunidade, às questões contemporâneas e que ofereça uma aprendizagem mais personalizada.

A aspiração por um desenvolvimento sustentável para o Brasil, que incorpore uma visão sistêmica e estratégica, exige trabalhadores que possam resolver problemas de forma rápida e criativa, que saibam trabalhar em equipe. Essa aspiração demanda também cidadãos que tenham acesso a conhecimentos, com capacidade de participar de debates e de exercer o controle da implementação de políticas públicas.

Não se trata de tarefa simples, requer uma mobilização dos diferentes setores da sociedade para a articulação das metas do PNE, com um plano de apoio e “empoderamento” de Estados e municípios para que alcancem as metas previstas e reorganizem as escolas para que se tornem o espaço privilegiado para responder a esses desafios.

Não é preciso começar do zero ou nos valer de referências externas. Há experiências colocadas em prática por escolas e, especialmente, por redes de ensino que podem apontar caminhos para o desenho de programas, projetos e ações.

A crise educacional não será superada sem o envolvimento dos professores. Não bastará um novo currículo, inclusão de inovações tecnológicas, expansão da educação integral e de políticas de equidade e respeito à diversidade cultural sem profissionais capacitados. Esse ponto exige uma revolução na educação por meio de uma política de valorização que inclua plano de carreira, salário e mudanças estruturais na formação inicial e continuada.

Os últimos resultados educacionais revelaram que não só não avançamos como regredimos na qualidade da educação ofertada às nossas crianças e jovens.

Essa situação parece demonstrar com clareza que precisamos muito mais do que uma política imediatista e de cunho marqueteiro, como a criação de uma rede de escolas federais de referência, prevista no plano da Secretaria de Assuntos Estratégicos, para chamarmos o Brasil de pátria educadora.

(*) MARIA ALICE SETUBAL, a Neca, doutora em psicologia da educação pela PUC-SP, é presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – Cenpec e da Fundação Tide Setubal. Foi assessora de Marina Silva, candidata à Presidência da República em 2014.

(*) Artigo publicado no jornal ‘Folha de São Paulo’, em 10/07/2015.